sábado, 2 de outubro de 2010

Giramundo

Nos primórdios da computação a linguagem de máquina ensinada aos estudantes da faculdade chamava-se "Fortran". O algorítmo, era uma sequência lógica de comandos que visavam solucionar um problema colocado pelo professor. Dentro do algorítmo, haviam as rotinas e subrotinas, que nada mais eram do que repetições de comandos estabelecidos em determinados locais do programa. Ou seja, quando a sequência lógica encontrava uma rotina ou subrotina o programa executava várias vezes o mesmo passo, para depois voltar à sequencia do programa principal.
Estou fazendo essa pequena introdução, para chegar a seguinte conclusão: - A nossa vida é como um programa de computador, repleto de rotinas e subrotinas, que verdadeiramente, não levam a lugar nenhum.
Se eu partir de um determinado ponto "X" do planeta, e seguir sempre em linha reta, atravessando mares, vales, montanhas e tudo o que vier pela frente, algum dia chegarei novamente ao ponto "X". Este é um exemplo clássico de rotina. Você vai, conhece outros lugares, aprende coisas diferentes, mas no fim acaba sempre no mesmo lugar.
As subrotinas, são aquelas pequenas repetições derivadas da rotina, que fazemos diariamente tais como: lavar a louça, arrumar a cama, tomar café, almoçar, etc.. Na realidade nosso calandário é uma rotina. O mês começa no dia primeiro e após 30 dias volta ao primeiro. O ano começa em janeiro e após 12 meses volta ao janeiro. A Terra também cumpre a sua rotina: A cada 365 dias dá uma volta ao redor do Sol, e volta ao ponto de partida. Mas quanto ao Universo, esse não tem rotina, certo? Errado! Há fortes indícios que a expansão do Universo está ocorrendo de forma curva, o que implica dizer que algum dia, num futuro longinquo, esses astros todos vão se encontrar, no outro lado, gerando um cataclisma. Seria a volta ao ponto de partida do Universo.
Então podemos afirmar que nós somos repetitivos ou o Universo a nossa volta nos faz ser repetitivos. A máxima de Lavoisier também é uma rotina: "Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma". Pertencemos a um grande ciclo de repetições, reaproveitamentos e renascimentos. Afinal a nossa vida no Universo que nos cerca é uma grande rotina.


Poema do Dia:

O Andar

Ando...
E se não andasse
Não sairia do lugar.
Nem a alavanca
Moveria o mundo,
Nem Newton desvendaria
Da inércia, a teoria.

Ando...
E só sei que ando vazio,
Num vazio que me
Enche de aflição.
Erupções cutâneas em suor.
Respiração com falta de ar.
Nas diversas formas de andar.

No meretrício
O andar de atração
Um andar
Sensual
E erótico
Cheirando
A aromas afrodisíacos,
Emanados
De um buraco,
Digo, de dois buracos
Igual a um prato de
Cuscuz.

Na vida
O andar errante,
Um andar
Violento e
Violado.
Um estupro
Em cada esquina.
Imagens estampadas
Na retina,
que deixam
Os olhos cheios
De pus.

No velório
O andar de caixão.
Um andar
Cabisbaixo
E Taciturno
Procurando
Um buraco na terra
Prá enfiar
O cabeção.
Imitando
Um idiota
Avestruz.

Andar
Andarejo...
Ao som do realejo,
Onde tudo vira poesia
Até teu beijo...

Andar
Andarengo...
É melhor trepar
Numa égua no cio,
Do que montar num
Cavalo rengo...

Andar
Andares...
Em movimentos circulares.

No meretrício...
Na vida...
No velório...

Em movimentos circulares

É tanto chão,
É tanto pão,
Que se come esmigalhado
Que sustentam esses corpos,
- Os seus corpos!
Que, no entanto,
A despeito de andares
E mesmo que gritares,
Ruidos não serão ouvidos.
Som do realejo
Em movimentos circulares.
A despeito de andares
Ficarão prisioneiros
Eternos...
Circunscritos
A seus lugares...

Richard 2010

Um comentário:

  1. Na sua opinião jamais podemos nos livrar "dela" (a rotina)? Ou o sistema faz com que todos se mantenham nesta rotina por pertencimento, hábito ou medo? Filosofando... Odeio segundas-feiras e elas sempre vêm depois de domingo. :)

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