sábado, 12 de fevereiro de 2011

"Swing" à Italiana com Tempero Brasileiro

Meus antepassados italianos protagonizaram um caso sem precedentes e que escandalizou a comunidade imigrante no início do século XX, na linha Tapera, interior de Gramado (RS). Trata-se da primeira troca de casais que se tinha notícias, entre os Trentin e os Dal-Ri, e que até hoje é motivo de escândalo e discórdia.
Os personagens dessa história foram os casais Nicodemo Trentin/Carolina Tessaro e Giuseppe Dal-Ri/Maria Baretta.
A relação entre eles iniciou quando Nicodemo convidou Giuseppe para ser seu sócio na construção e operação de um moinho. Os casais, então, tornaram-se íntimos e passaram a dividir a mesma casa.
Em abril de 1907, ocorreu um fato decisivo que mudaria completamente suas vidas. Hermínia, sete anos, filha de Maria e Giuseppe precisava de socorro urgente. Grávida, em vias de dar à luz, Maria pede para Carolina acompanhar seu marido Giuseppe até Taquara, em busca de socorro médico. Hermínia acaba morrendo e é enterrada em Taquara. Nessa viajem do casal aflora um sentimento mais forte que amizade. Após o retorno, Carolina viaja para Caxias com a desculpa de visitar parentes. Giuseppe viaja para Farroupilha a pretexto de pegar duas mulas de carga. A verdade é que Carolina e Giuseppe combinam um encontro em Caxias e juntos fogem para Sobradinho onde planejam viver sua grande paixão.
Após seis meses da fuga de Carolina e Giuseppe, Nicodemo e Maria passam a viver como marido e mulher. Nicodemo assume os filhos de Giuseppe com Maria, além de ficar com sua única filha com carolina.
É claro que a sociedade cobrou seu preço por tamanho descalabro para a época. Nicodemo e Maria foram impedidos de comungar e frequentar a igreja. Já Giuseppe foi enterrado como indigente, no lado de fora do cemitério.
Este episódio histórico ficou conhecido como " O Quatrilho".


Poema do Dia:

Indecisão

Nossos olhares se cruzaram
Eu gostei de ti
Tu gostaste de mim
Teu olhar de tigresa me encantou.
Quis te falar,
Sentir o tom da tua voz,
Mas essa indecisão
Que é minha algoz
Faz-me engolir as palavras
No momento oportuno.
Deixa-me amordaçado e sem ação.
Quando, finalmente, crio coragem
E me livro dessa amarra
Já é tarde...,
Perco-te na multidão.

Richard 2011

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A Teoria e a Prática

O papel aceita tudo. Tudo o que eu quiser ser, fazer ou sonhar, eu posso realizar na minha cabeça ou colocar em uma folha de papel. Mas colocar em prática nossos sonhos pode-se tornar uma tarefa muito difícil, quiçá impossível.
A verdade é que muitos fatores externos têm ação sobre os acontecimentos ao nosso redor. E, muitas vezes, estes agem de forma contrária ao nosso imaginário transformando o resultado final diferente daquele que havia sido pensado ou escrito
Um exemplo muito interessante que ilustra esse fato, aconteceu no caso do italiano Primo Levi.
Primo Levi, químico, escritor e filósofo. Um judeu italiano que escapou duas vezes da morte nos onze meses que passou no campo de concentração nazista de Auschwitz. Na primeira vez, por ser químico, foi selecionado para trabalhar no laboratório de pesquisas sobre borracha no campo. O que lhe valeu certas "regalias" perante às torturas sofridas pelos demais prisioneiros. Quando as forças aliadas estavam prestes a invadir Auschwitz, os nazistas se retiraram do Campo levando consigo os prisioneiros que estavam com boa saúde. Foi a chamada "Caminhada da Morte", onde as tropas alemãs juntamente com os prisioneiros foram praticamente dizimadas pelas forças aliadas. Mais uma vez Primo Levi foi salvo pela sorte. Acometido de Escarlatina ficou na enfermaria do Campo juntamente com 800 presos doentes dos quais 700 morreram. Levi foi um dos 100 sobreviventes. Após esse episódio marcante em sua vida, Levi, já de volta para a Itália, escreveu o livro "É Isto Um Homem?", descrevendo as atrocidades vividas por ele no Campo de Concentração de Auschwitz. Entre outros trabalhos, escreveu também o livro "A Trégua", onde ele nos mostra que é possível deixar uma guerra, aos pedaços, e ir juntando as partes novamente pela vida afora.
Curiosamente, esse homem, que passou pelos horrores da guerra e nos ensinou o caminho para superarmos as adversidades que a vida nos aplica, decidiu por fim à sua própria vida. Primo Levi havia telefonado a um amigo, pouco antes de morrer, e dito que não suportava mais a vida. Estava arrasado pelo sofrimento que a mãe vinha enfrentando com o câncer. Vê-la sofrer fazia com que recordasse dos horrores de Auschwitz. Minutos depois da conversa, Levi saltou do alto de uma escadaria em Turim, onde morava.
Levi não conseguiu colocar a sua teoria na prática. Ele foi vítima dos atalhos e descaminhos que a vida nos traça, testando nossas habilidades para sobreviver.




Poema do Dia:


Obsessão Cromática


O vermelho é absurdo.
O vermelho é abjeto.
O vermelho é o desejo,
Contido nas cartas do realejo.


O vermelho é o sangue
Destilado do inimigo.
O vermelho é o sexo:
Nosso prazer complexo.


O vermelho é a guerra
Com todo o seu horror.
Vermelha é a chama
Que arde na tua cama.


O vermelho é o sangue
Da tua menstruação.
Vermelho é o dia
Em que a morte me perseguia.


A obcessão vermelhífica, consuma,
A visão magnífica do apocalipse.
Pés, mãos, corpos de cabeças decepadas.
Vermelho de sangue por todos os lados.


Vermelho, vermelho, vermelho.
Vermelho por todos os lados.


A nossa sorte é...
Que o céu ainda é...
Azul!


Richard 2011