domingo, 31 de outubro de 2010

Os Cemitérios Dentro de Nós

"Os leitores do meu Blog que me desculpem, mas o tema do meu texto é pesado e indigesto. Contudo não posso me furtar de falar sobre a morte justamente às vésperas de Finados. Portanto tirem as criancinhas e os mais sensíveis da frente do computador, pois o manto sombrio da derradeira jornada cairá sobre todos."





O espírito de Edgar Allan Poe, o escritor maldito de estórias extraordinárias, está baixando em mim. Apesar de eu não gostar muito dele. Já que eu não gosto de ficção, e muito menos de ficção sobrenatural. Além do mais ele próprio se confessava um viciado em ópio. Portanto seus textos, apesar de terem uma excelente fluência e um vocabulário admirável, pecam pelo exagero das estórias. Mas ele é um escritor consagrado e muito lembrado mesmo depois de morto, e sendo assim, merece todo nosso respeito.

Os cemitérios me causam espanto. Não pelas almas que supostamente lá habitam, mas sim pela maneira com que são cultuados e materializados. Não aceito transferir para um monumento de pedra e um amontoado de pó e ossos sentimentos que deveriam estar presentes dentro de nós para sempre. A lembrança de pessoas queridas que se foram está incorporada em nossa mente pelos anos de convívio, e deve se manter viva e duradoura valendo mais do que um santuário feito de tijolos e cimento.
Os cemitérios são uma cultura da nossa sociedade. Sendo assim, existe toda uma concepção desenvolvida através de anos que não pode ser mudada de uma hora para outra. Então é preciso respeitar esta instituição. Nas proximidades desta data, todas as famílias se lembram que tem aquele compromisso nos cemitérios. Então começam a arrumar o que estragou durante o ano. Se não houvesse o feriado de Finados, talvez a maioria das pessoas esquesessem de vez os seus mortos. Acho que os cemitérios são entidades em processo de extinção. Tanto pelo espaço que ocupam, como pela questão da higiene, e principalmente pela problemática do saneamento ambiental.
Na última vez que estive num cemitério por esses dias, já que atuo também na profissão de Chaveiro, fui chamado para abrir uma porta de uma casinha mortuária que ficava bem no alto da elevada. O cemitério se localizava na encosta de uma montanha e os túmulos se distribuiam em diversos patamares como degraus de escada subindo ao céu. Lá do alto onde eu estava, podia visualizar, ao longe, um vale verdejante que seguia seu caminho tortuoso até desaparecer nos confins do firmamento. Fiquei ali um momento, pensando. Era realmente um belo lugar para última morada. Olhei para todos aqueles túmulos distribuidos morro abaixo. De todos os tipos, de todos os tamanhos, uns mais ricos, outros mais pobres, muitos abandonados, com as cruzes já tortas, vergadas pelo tempo. Abandonados, como abandonados foram seus donos. Esquecidos por seus parente, em meio a loucura e o "stress" do dia a dia. Era comovente ver um tumulozinho de um recém nascido num espaço mínimo, demarcado no chão com tijolos fincados e uma cruz de madeira muito singela. Um triste destino de um ser que mal veio ao mundo e já partiu deixando em seus pais e parentes as marcas de sua passagem fugaz, que com certeza, jamais serão esquecidas. Quem sabe essa tenha sido sua missão na Terra?
A face da morte é chocante. Já me deparei com ela algumas vezes. Certa vez fui chamado para abrir uma casa num bairro da cidade. Havia suspeita do sumiço de um rapaz que chamarei de "A", que por sinal foi meu colega de ensino fundamental. Naquela noite o cunhado de "A" veio acompanhado de dois brigadianos, contou-me sobre o sumiço que já durava uma semana e pediu que fossemos até a casa dele para arrombá-la. A família nunca dava muito importância aos sumiços de "A", já que ele era viciado em cocaína e era comum ele cometer certas loucuras. Chegando lá, notamos as luzes acesas dentro da casa, mas esta estava trancada por dentro. Achei melhor abrir a porta dos fundos, que dava na cozinha, pois esta só tinha uma tranca. Ao abrí-la, foram confirmadas nossas suspeitas, "A" estava caído defronte à porta, com o corpo de barriga para cima. Um cheiro fétido no ar dava a certeza de que ele havia morrido já a uns três ou quatro dias atrás. O rosto pálido com manchas de hematomas e feridas já em estado de putrefação. Nas paredes da cozinha podiam-se ver manchas de sangue espalhadas por todos os lados, mostrando a luta de "A" para tentar alcançar a porta de saída na vã tentativa de buscar ajuda. Já dentro da casa, pudemos visualizar todo drama ocorrido com "A". Ele esta no mezanino onde ficava o quarto de dormir. Tudo estava revirado. O sangue começava na escada, de onde provavelmente "A" tenha desabado, e onde certamente tenha se ferido gravemente, seguindo para a cozinha, cambaleante, já perdendo muito sangue e vindo a morrer defronte a porta da cozinha, sem conseguir abrí-la. No seu quarto, vários papelotes de cocaína consumidos...
E assim é a vida. Uns morrem, outros nascem . Uns vivem , outros sobrevivem. Uns vão aos cemitérios, e outros trazem os cemitérios dentro de si.


Poema do Dia:

Quando Ela Chega

Minhas células rebeldes se embriagam
No tênue azul álcool do Abscinto.
Enquanto na noite escura, olhos vagam,
No aguardo, paciente, do juízo ficar extinto.

A escassa luz que me iluminava, já se apagou.
Outrora fora como um sol em minha vida.
A esperança de dias melhores naufragou,
Na anorexia diante de um prato de comida.

Em minha mente, um pensamento rotundo.
Pontos de luz de admirável persistência
Mergulhados numa superfície negra, ao fundo
Surgem e desaparecem, sem ter consistência.

E eu afundo nesta atmosfera
Como um zumbi mal enterrado,
Curtindo as idéias que a loucura gera.
Buscando razões por haver sido gerado.

A resposta vem num arroto flatulento,
Que sai do estômago acidificado,
E passa queimando pelo esôfago, em ritmo lento
Até sair pela boca, deixando um hálito modificado.

Inevitavelmente, ela vem chegando.
Eu sinto no eriçar dos pêlos da minha pele,
Um calafrio gélido que vai se propagando
No momento final, até que meu destino sele.

Eu quero a morte ao meu lado.
E que ela venha de forma lenta e indolor
Como a paz com o amor, de rosto colado,
Num feliz desfecho, num dia incolor.


Richard 2010

sábado, 23 de outubro de 2010

As Pessoas

Os humanos se diferenciam dos outros animais por serem racionais. Enquanto aqueles agem por instinto, o ser humano age com a razão comandando os sentidos. Este é o nosso legado de milhares de anos de evolução. Graças à razão, podemos dizer que somos os senhores do destino do planeta Terra. Em nosso mundo são raros os segredos desconhecidos da inteligência humana.
Evoluímos tanto e tão igualmente, que as pessoas estão cada vez mais parecidas entre si. Diferentemente dos nossos ancestrais, nós não precisamos mais caçar para nos alimentar e nos vestir. Não precisamos morar em cavernas. Não precisamos mais nos adaptar ao meio ambiente que nos cerca. Hoje temos tudo ao alcance das mãos. O homem criou seu nicho protegido dentro do mundo, e isto tornou sua vida mais fácil, consequentemente travando sua evolução.
Todo esse processo pacífico da existência humana está gerando uma uniformidade tanto na aparência como na atitude. As pessoas estão tão parecidas entre si que acabam ficando previsíveis. Os mesmos sorrisos, os mesmos cumprimentos, as mesmas atitudes. Não há mais inovações, não há mais criações, não há mais surpresas. É tudo muito igual, maçante, entediante. As mesmas caras, as mesmas bocas aqui ou na "Conchinchina". Estou até com medo de encantrar um sósia meu em algum canto do mundo. Seria muito engraçado o nosso diálogo:
- Puxa cara! Como é que a gente pode ser tão parecido?
- Pois é né! Nem tudo é perfeito no mundo...
Onde vai parar nosso mundo de seres racionais? Será que nos tornaremos idênticos a robôs numa linha de montagem? Todos iguais em idéias de vida, em pensamentos, em semelhança e até em objetivos?
Não! Penso que não!
Temos dentro de nós algo maior do que a razão. Algo que nos diferencia, mesmo que sejamos iguais na aparência. É o nosso desejo de saber, conhecer coisas novas. É aquilo que toda criança tem desde que nasce: A curiosidade. E é a curiosidade que vai fazer com que o homem saia do seu nicho confortável e busque novas aventuras, novos mundos, novas situações que exijam adaptação para que, felizmente, nós continuemos a evoluir.



Poema do Dia:


As Relações


As pessoas se repetem
Em atos, palavras e até feições.
Mesmo eu me repito,
Quando paro
E dou um grito!
Grito à toa
Meu grito não ecoa
Apenas mudo ele soa
E passa imperceptível
Por entre as lacunas
Da multidão...


Eu vejo as pessoas,
Mas elas não me vêem!
(ou fingem não me ver)
Serão elas escravas do tempo
Ou serão apenas os meus olhos?


Contorno os corpos
Replicantes, andróides
Quisera saber seus destinos
Com paixões fugazes
De alta voltagem e
Choque de asteróides.


E estes se dizem evoluídos
Animais inteligentes e racionais
Donos e senhores do mundo
Mas infelizes diante de seus destinos
De se repetirem mecanicamente
Desde o berço até os funerais.


Quisera também ser um deles,
E não pensar no meu futuro
Não pensar em nada além
Do que minha mente
Saiba que eu aturo.


Ah! Relações humanas...
Frias relações humanas...
Por mais humano
Por mais inteligente
Por mais elevado
O divino pensamento
Jamais alcançará
O exato momento
Da clarividência simbiótica
Da união entre
O criador e
A criatura.


Richard 2010

domingo, 17 de outubro de 2010

Eu, Meus Pais e Richard Burton

Meu nome é Richard! Muitos pais adotam o nome de celebridades para seus filhos. Não sei até que ponto um fã sofre a influência do seu ídolo. Mas acredito que adotar o nome de uma pessoa adimirada em um filho é mais do que uma casualidade passageira. É uma necessidade de perpetuar na sua descendência a lembrança de alguém que marcou profundamente uma passagem de sua vida.
Richard é um nome estrangeiro dentro do Brasil. Seguidamente tenho que soletrá-lo, pois as pessoas não o entendem. Quando me perguntam porque eu tenho este nome, sempre lhes digo: "-Isso foi influência do cinema". De fato, minha mãe disse certa vez, que me colocou este nome por causa de um ator Britânico chamado Richard Burton.
Richard Burton foi um ator que fez muito sucesso nos anos 60 e 70. Durante sua carreira foi indicado 7 vezes ao Oscar de melhor ator, porém não ganhou nenhuma vez. Teve um relacionamento conturbado com a sua grande paixão, Elisabeth Taylor, também atriz, com quem se casou duas vezes.
Estou certo de que Richard Burton teve uma influência significativa na minha existência nesse mundo. Eu nasci em março de 1964. Portanto, levando-se em conta uma gravidez de 9 meses, significa dizer que eu fui concebido mais ou menos em junho de 1963. Pesquisando a filmografia de Richard Burton cheguei ao ano de 1963. E estava lá o filme que inspirou minha mãe. O nome do filme era "Cleópatra", com Richard Burton no papel de Marco Antônio, e ninguém menos do que Elizabeth Taylor no papel de Cleópatra. Tratava-se de uma das produções mais caras de Hollywood em todos os tempos, e que deve ter provocado grande impacto na época.
Fiquei imaginando a cena: Numa noite fria de junho de 63, minha mãe se sentindo uma Cleópatra, vendo em meu pai um Marco Antônio na imagem cativante de Richard Burton.
E assim eu fui concebido. Meu pai que me desculpe, mas Richard Burton teve uma parcela de contribuição na minha existência. Ele foi o elemento catalizador daquele momento.
Tudo isso me leva a concluir que eu tenho um pai biológico, de quem herdei os genes, e um pai ideólógico de quem herdei o nome. Para finalizar, quero agradecer eternamente, aos meus dois pais por terem contribuido para que eu pudesse ter o privilégio de haver nascido!


Poesia Do Dia:


A Tatuagem

Mandei tatuar seu nome em minha pele,
Quando ela me jurou eterno amor.
Mas seu amor por mim um dia acabou,
E eu dancei...

Ah! Amor... Volátil, amor...

O que eu faço agora?

Deixa prá lá.
É só encontrar um novo amor,
Que tenha o mesmo nome dela.

Richard 2010



sábado, 9 de outubro de 2010

Reflexões Espelhíferas

Narciso montou em sua casa um compartimento secreto todo forrado com espelhos. Até mesmo o acesso era escondido. No seu quarto normal de dormir havia uma parede falsa deslizante, que dava entrada ao dito cômodo. Uma vez no interior deste, somente ele sabia o meio de sair, pois quando fechado por dentro as paredes se acoplavam tão perfeitamente, que não se sabia onde terminava um espelho e nem onde começava o outro. Dentro deste, tudo era espelhado. O chão, o teto e as paredes. Havia uma pequena entrada de ventilação no canto superior da parede, e uma mini lâmpada no teto que dava claridade esfusiante ao ambiente devido a multiplicação de sua luz através dos espelhos. Os móveis se resumiam numa cama de casal, cuja armação era toda espelhada e as roupas de cama eram todas na cor prata. E, curiosamente, um espelho com moldura esculturada em madeira imitando ramagens de flores também pintada em prata. De forma que, na sala, somente destoavam a roupa de cama e a moldura, de resto tudo mais eram espelhos.
Era ali, naquele santuário multifacetado, que Narciso se escondia do mundo. Era seu lugar predileto. Neste lugar Narciso meditava, nú como veio ao mundo. Aquele era um lugar puro, isento da sujeira cotidiana, portanto ele, ou que entrasse ali, só se estivesse nú. Eventualmente,
Narciso e sua mulher faziam amor no quarto dos espelhos. Tinham a sensação de participarem de uma orgia, com milhões de corpos nús a sua volta, milhões de beijos, milhares de penetrações e múltiplos orgasmos disseminados através das lâminas frias dos vidros espelhados. No final se davam conta que eram somente os dois, na cumplicidade estreita do matrimônio. E assim eram felizes.
Narciso considerava aquele ambiente sagrado, pois ali se via como realmente era. Sem subterfúgios. Considerava que seus pensamentos se multiplicavam com as imagens. Acreditava que chegaria o dia em que conseguiria atingir o nível supremo da perfeição, e aí, nesse momento, falaria com sua própria alma.
Os anos se passaram. A mulher de Narciso veio a falecer. E, com isso, Narciso se isolou ainda mais do mundo. Passou a morar praticamente dentro do quarto dos espelhos, de onde só saía para se alimentar. Nada mais importava no mundo lá fora. Agora era só ele e seus pensamentos. Narciso e seu ego, na busca incessante da perfeição.
E o tempo foi passando e deixando suas marcas. Um dia durante suas meditações, Narciso sentiu uma forte dor no peito. Levantou-se da cama e, cambaleante, tentou abrir o compartimento do quarto dos espelhos na tentativa de buscar ajuda. Não houve tempo. Narciso tivera um ataque fulminante do coração. Seu corpo, já sem vida, ali estirado no chão espelhado do quarto. Sua imagem nú e esquelética, se multiplicando aos milhões. E com elas, finalmente, se desprendia a sua tão almejada alma. Justamente no momento mais desejado por Narciso. No momento em que ele poderia, enfim, conversar com sua alma. Ele já não estava presente.
Jazia Narciso em seu caixão forrado de espelhos. Em seu rosto ainda podia se notar um leve sorriso de satisfação que, fantasticamente, se multiplicava aos milhões.


Poema do Dia:

O Quarto Dos Espelhos

No quarto dos espelhos
Teu corpo se multiplica
Como um dízima periódica sem fim

Na frente, atrás
À esquerda, à direita
As imagens se multiplicam
Em loucas posições

Teus braços,
Tuas pernas,
Teus grandes glúteos,
Teus lábios absurdamente carnudos,
Teu corpo, enfim,
Milhões de corpos,
Bilhões de corpos,
Trilhões de corpos...
Tantos quanto as estrelas do céu...

E nenhum deles
Definitivamente, nenhum deles...
...É meu...

Richard 2010

sábado, 2 de outubro de 2010

Giramundo

Nos primórdios da computação a linguagem de máquina ensinada aos estudantes da faculdade chamava-se "Fortran". O algorítmo, era uma sequência lógica de comandos que visavam solucionar um problema colocado pelo professor. Dentro do algorítmo, haviam as rotinas e subrotinas, que nada mais eram do que repetições de comandos estabelecidos em determinados locais do programa. Ou seja, quando a sequência lógica encontrava uma rotina ou subrotina o programa executava várias vezes o mesmo passo, para depois voltar à sequencia do programa principal.
Estou fazendo essa pequena introdução, para chegar a seguinte conclusão: - A nossa vida é como um programa de computador, repleto de rotinas e subrotinas, que verdadeiramente, não levam a lugar nenhum.
Se eu partir de um determinado ponto "X" do planeta, e seguir sempre em linha reta, atravessando mares, vales, montanhas e tudo o que vier pela frente, algum dia chegarei novamente ao ponto "X". Este é um exemplo clássico de rotina. Você vai, conhece outros lugares, aprende coisas diferentes, mas no fim acaba sempre no mesmo lugar.
As subrotinas, são aquelas pequenas repetições derivadas da rotina, que fazemos diariamente tais como: lavar a louça, arrumar a cama, tomar café, almoçar, etc.. Na realidade nosso calandário é uma rotina. O mês começa no dia primeiro e após 30 dias volta ao primeiro. O ano começa em janeiro e após 12 meses volta ao janeiro. A Terra também cumpre a sua rotina: A cada 365 dias dá uma volta ao redor do Sol, e volta ao ponto de partida. Mas quanto ao Universo, esse não tem rotina, certo? Errado! Há fortes indícios que a expansão do Universo está ocorrendo de forma curva, o que implica dizer que algum dia, num futuro longinquo, esses astros todos vão se encontrar, no outro lado, gerando um cataclisma. Seria a volta ao ponto de partida do Universo.
Então podemos afirmar que nós somos repetitivos ou o Universo a nossa volta nos faz ser repetitivos. A máxima de Lavoisier também é uma rotina: "Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma". Pertencemos a um grande ciclo de repetições, reaproveitamentos e renascimentos. Afinal a nossa vida no Universo que nos cerca é uma grande rotina.


Poema do Dia:

O Andar

Ando...
E se não andasse
Não sairia do lugar.
Nem a alavanca
Moveria o mundo,
Nem Newton desvendaria
Da inércia, a teoria.

Ando...
E só sei que ando vazio,
Num vazio que me
Enche de aflição.
Erupções cutâneas em suor.
Respiração com falta de ar.
Nas diversas formas de andar.

No meretrício
O andar de atração
Um andar
Sensual
E erótico
Cheirando
A aromas afrodisíacos,
Emanados
De um buraco,
Digo, de dois buracos
Igual a um prato de
Cuscuz.

Na vida
O andar errante,
Um andar
Violento e
Violado.
Um estupro
Em cada esquina.
Imagens estampadas
Na retina,
que deixam
Os olhos cheios
De pus.

No velório
O andar de caixão.
Um andar
Cabisbaixo
E Taciturno
Procurando
Um buraco na terra
Prá enfiar
O cabeção.
Imitando
Um idiota
Avestruz.

Andar
Andarejo...
Ao som do realejo,
Onde tudo vira poesia
Até teu beijo...

Andar
Andarengo...
É melhor trepar
Numa égua no cio,
Do que montar num
Cavalo rengo...

Andar
Andares...
Em movimentos circulares.

No meretrício...
Na vida...
No velório...

Em movimentos circulares

É tanto chão,
É tanto pão,
Que se come esmigalhado
Que sustentam esses corpos,
- Os seus corpos!
Que, no entanto,
A despeito de andares
E mesmo que gritares,
Ruidos não serão ouvidos.
Som do realejo
Em movimentos circulares.
A despeito de andares
Ficarão prisioneiros
Eternos...
Circunscritos
A seus lugares...

Richard 2010