quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Eu Estive no Céu

Era um domingo cinzento, composto com alguma garoa persistente. Eu, como motorista, com mais quatro passageiros, subíamos a encosta de uma montanha íngreme. Passamos por asfalto, trepidamos por paralelepípedos e derrapamos por estradas de chão batido. A chuva miúda dava uma sensação de suspense à nossa subida. Eu não sabia o que iria encontrar lá. Tudo era novidade para mim. Apenas sabia que lá, bem no alto da montanha, havia uma comunidade que vivia em função de sua crença. Como tantas outras que existem por aí, dedicadas à sua fé e aos seus dogmas. As dificuldades do caminho foram plenamente justificadas ao chegarmos no topo. Realmente era um lugar escolhido a dedo. Cercado de natureza e bem pertinho do céu. Havia um templo central, que se destacava pela sua beleza plástica, repleto de pinturas onde predominavam o vermelho e o dourado. Ao redor, haviam construções menores que complementavam o complexo. O templo principal era realmente lindo por dentro. Com paredes pintadas com motivos ilustrados, contando histórias sobre a origem da sua religião, do seu fundador, das fases por que passou até se tornar divindade. Haviam também, várias figuras esculpidas representando seus deuses ou entidades divinas. Ao fundo, via-se uma enorme biblioteca contendo mais de uma centena de papiros enrolados em tecidos, contendo todas as diretrizes a serem seguidas por seus fiéis. Uma verdadeira relíquia, equivalente à Bíblia Sagrada.
Lá fora, no pátio, uma vista esplendorosa do horizonte. Ali do alto, como se estivéssemos no topo do mundo, acima de todos os males, flutuando por cima de todos os problemas. Um visual que nos convidava a meditar, em companhia da paz.
De volta para casa, relembrando todo aquele passeio junto à natureza, toda aquela tranquilidade reabilitadora, a sensação de paz no espírito, eu tive a certeza: Eu estive no céu e não sabia!


Poema do Dia:

Os Chás

Os chás revelam teus segredos,
Em cheiros formas e gostos.
Não há fantasmas, não há medos.
Refletidos, no espelho, só nossos rostos.

O tempo se afastou de nós sem receio.
No meio da vida, tudo pára em volta...
Nem o futuro, que jamais creio,
Minha frágil fé trará de volta.

De resto resta uma réstia de desejo.
Os chás nos entorpecem, criam visões.
E eu acredito nas miragens que vejo.
O fururo e a morte têm suas razões.

Nas nuvens nebulosas dos chás
Deito meu corpo cansado.
Entrego minha mente, espero que te vás.
Sou só: "Eu e meu reinado".

E não me venhas contar tuas mentiras.
Meus ouvidos saturam do que tu achas.
A única verdade está escrita em tiras
Nas tumbas, nas cruzes e nos chás...

Richard 2010

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